

Arte e a Construção de Projetos de Vida no Ensino Fundamental
Na década de 1970, quando Caetano Veloso escreveu a letra de “Cajuína” – preciosidade sonora em homenagem ao amigo Torquato Neto, que em 1972 tirara a própria vida –, o artista da Tropicália nos lançou um questionamento que é crucial para a educação: “Existirmos, a que será que se destina?”.
Afinal, para que existimos? Qual a razão de nos mantermos vivos? Como muito bem enfatiza o educador Nílson Machado (2016), parece-nos não bastar termos nossas funções vitais em funcionamento: o que nos torna exclusivamente humanos é justamente nossa vontade de viver, de estabelecer metas diante da incerteza do futuro – em outras palavras, de nos projetar com objetivos a um cenário não determinado. Projetar, portanto, é estar vivo.
Projetos de Vida e a BNCC
O ato de projetar-se, de estabelecer metas e de desenvolver estratégias para cumpri-las é algo tão humano que a Base Nacional Comum Curricular – BNCC (2017) o colocou como uma das 10 competências gerais que deverão nortear os caminhos da educação.
Como aponta a BNCC, o projeto de vida do aluno do ensino fundamental se relaciona à capacidade de estabelecer metas, reorganizá-las de acordo com o não previsível e também de criar e coordenar estratégias para alcançá-las, com autonomia, espírito crítico, liberdade e responsabilidade. Dessa maneira, ainda que a BNCC vincule o projeto de vida do estudante ao mundo do trabalho, essa competência não pode ser reduzida à profissionalização: bem mais ampla, deve ser compreendida em um âmbito global da vida do jovem.
A Arte e a Construção de Projetos de Vida
O ensino de Arte, conforme a BNCC, está centrado no desenvolvimento de habilidades específicas para cada componente curricular (dança, teatro, artes visuais, música e artes integradas) e no trabalho com seis dimensões do conhecimento (criação, crítica, estesia, expressão, fruição e reflexão).
Dentro dessa trama de possibilidades, a Arte torna-se campo fértil e ferramenta de aragem para que o aluno, desde cedo, plante seus primeiros projetos de vida, uma vez que o conteúdo, a prática e as inter-relações propostas por esse componente curricular estimulam a criatividade, a expressividade e a experiência sensível consigo e com o outro, de maneira reflexiva, autônoma e com criticidade.
Projeto, Logo Existo. E existo com o outro
Para estar vivo, de fato, precisamos de projetos. Mas de nada valeriam esses projetos se não estivessem vinculados à noção de coletividade. Nesse sentido, a construção de projetos em Arte – principalmente os que integram as unidades temáticas e que apostam na interação com os colegas diante dos desafios – auxilia o jovem, ao longo de seu desenvolvimento, a plantar, cuidar, colher e usufruir de seus projetos de vida com individualidade e, ao mesmo tempo, com tolerância e solidariedade, seara vital para o exercício pleno da cidadania.
Referências:
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular – BNCC. Brasília, DF, 2017;
MACHADO, N. J. Educação: cidadania, projetos e valores. São Paulo: Escrituras, 2016;
VELOSO, C. Cajuína. In: Cinema transcendental. Universal Music, 1979;
Solange Argon é autora de Arte – Ensino Fundamental –, psicóloga, arte-educadora e especialista em Linguagens da Arte pela Universidade de São Paulo (USP).
Fonte: Rede de Experiências